A Grande Comissão
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Autoria / Fonte: William Watterson
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Sáb, 11 de Abril de 2009 06:14
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Uma breve consideração sobre a
comissão do Senhor Jesus Cristo, registrada em dois dos Evangelhos
A comissão do Senhor
Leitura: Mt 28:18-20 e Mr 16:15-20
Os versículos acima apresentam
aquilo que é chamado de A Grande Comissão — a última ordem do Senhor Jesus
Cristo aos Seus servos antes de deixar este mundo. Certamente devemos prestar
atenção ao que Ele disse, e nos familiarizarmos bem com esta comissão.
Em primeiro lugar, repare que esta
comissão tem dois componentes distintos, cada um apresentado por um dos
evangelistas. Em Mateus lemos: “Ide, fazei discípulos [literalmente,
“discipulai”] de todas as nações”, e em Marcos: “Ide por todo o mundo, pregai
o Evangelho a toda a criatura”. As duas ocorrências do verbo “ide” nestes
dois trechos estão no particípio (no grego), e os únicos verbos que estão na
voz imperativa nestas duas comissões são “fazei discípulos [discipulai]” em
Mateus e “pregai” em Marcos. Hoje em dia ouvimos muita ênfase sendo colocada
no verbo “ide”, mas precisamos lembrar que, apesar de toda a importância de
irmos ao mundo inteiro, a ênfase nestes dois trechos não é no “ir”, mas no
“pregar” e “discipular”.
A comissão, portanto, é dupla, e
poderia ser traduzida assim: “Indo por todo o mundo, pregai o Evangelho a
toda a criatura, e discipulai todas as nações”. Mateus apresenta um aspecto
dela (o discipulado), Marcos outro (a evangelização), e os outros dois
evangelistas a omitem totalmente.
Estas diferenças entre os quatro
evangelistas são de suma importância para entendermos corretamente a mensagem
de cada um destes relatos inspirados. São quatro retratos da mesma Pessoa e
da mesma vida, mas vistos de quatro pontos de vista diferentes. Muitos já tem
comparado os quatro relatos com os quatro seres viventes de Ezequiel cap. 1 e
Apocalipse cap. 4, seguindo a mesma ordem apresentada em Apocalipse:
a) O primeiro era semelhante a um
leão, um símbolo de realeza (Ap 5:5). Em Mateus, Cristo é apresentado como o
Rei de Israel.
b) O segundo era semelhante a um
bezerro, figura de serviço (I Co 9:9; Pv 14:4). Em Marcos, Cristo é
apresentado como o Servo perfeito.
c) O terceiro animal tinha o rosto
de homem, lembrando-nos da compaixão humana (Os 11:4). Lucas, o médico amado,
nos apresenta o Homem perfeito.
d) O quarto era semelhante a uma
águia voando, lembrando-nos daquilo que é do Céu, alto demais para a nossa
compreensão (Pv 30:18-19). João nos apresenta a perfeição do Filho de Deus.
Por que Deus nos revelou o Seu
Filho assim? Como Andrew Jukes escreve, isto facilita a nossa compreensão da
multiforme beleza do nosso Senhor. Com nossa visão limitada, só conseguimos
ver as diferentes cores que compõe um feixe de luz quando um prisma é usada
para separar estas cores uma das outras. Assim o Senhor, conhecendo a nossa
limitação, nos deu estas quatro revelações complementares do Seu Filho. Na
glória dos Céus poderemos vê-lO como Ele é, mas hoje é necessário termos
estes retratos diferentes. O jardim do Éden, com suas condições perfeitas,
podia comportar um rio. Mas quando aquele rio saia do Éden e alcançava as
terras comuns que rodeavam o Jardim de Deus, era necessário que ele se
dividisse em quatro braços. Assim também com Cristo.
Outro rio do VT nos ajuda aqui. Em
Ez 47 lemos de um rio que saia do Templo e atingia o deserto, levando vida e
bênção a todos. Quatro vezes Ezequiel é chamado a atravessar o rio, que vai
se tornando progressivamente mais profundo. Assim Mateus apresenta um retrato
do Senhor que é mais simples de compreender: Ele é o Rei, exatamente como os
judeus esperavam que seu Messias fosse. Marcos, falando-nos de como o Rei se
fez Servo, apresenta algo que confunde o ser humano — temos dificuldade de
entender um amor que faz alguém se humilhar tanto. Em Lucas, porém, as águas
são mais profundas: o Rei eterno não se fez apenas servo, Ele tomou a forma
humana. Quem pode compreender o mistério da encarnação? Quando chegamos em
João, porém, encontramos aquele “rio que eu não podia atravessar”, como
escreve Ezequiel. João nos revela detalhes do relacionamento divino entre o
Pai e o Filho que estão ausentes nos outros Evangelhos, e nos levam até às
portas do Céu.
Lembrando que cada um dos
Evangelistas apresenta a mesma história mas de pontos de vistas diferentes,
devemos prestar atenção aos diferentes aspectos da comissão do Senhor Jesus
que são apresentados por Mateus e por Marcos. É uma comissão só, com dois
componentes principais (evangelizar e discipular) — mas não é à toa que esta
única comissão é apresentada em dois relatos bem distintos.
Consideremos, então, resumidamente,
os dois componentes da comissão do Senhor Jesus.
Pregai (Marcos)
Comecemos com Marcos, pois no nosso
serviço para o Senhor “pregar” vem antes de “discipular”. Consideremos quatro
coisas neste trecho: a comissão, a forma como Cristo, o Comissionador, é
apresentado, a companhia do Senhor com os discípulos, e o contexto da
comissão.
A comissão
“Ide por todo o mundo, pregai o
Evangelho a toda criatura”
Há três elementos desta comissão
que podemos destacar: o ato (pregar), seu assunto (o Evangelho) e seu alcance
(todo o mundo e toda criatura).
a) O ato (pregai). O verbo que é usado aqui pelo
Senhor quer dizer, literalmente, “proclamar como um arauto” (o dicionário de
Thayer acrescenta: “sempre com uma sugestão de formalidade, solenidade e
autoridade que exigem atenção e obediência”). Em tempos antigos, o arauto era
um funcionário escolhido pelas autoridades para transmitir ao povo
comunicados importantes. Vestido com vestes oficiais, ele lia, em voz alta e
em locais públicos, aquilo que o governante lhe havia entregado para
declarar. Ele não tinha a função de explicar o porquê daquela mensagem, nem
exortar os ouvintes a obedecê-la — a sua responsabilidade era apenas
proclamá-la.
“Pregar” não é dialogar, nem
discutir, nem ensinar por métodos indutivos, mas é declarar, anunciar, dar um
recado. Veja a diferença apresentada por Paulo em Gl 2:2: “E subi por uma
revelação, e lhes expus o evangelho, que prego entre os gentios” (Gl 2:2).
Aos irmãos ele “expôs” aquilo que “pregava” entre os gentios — “expor” e
“pregar” não são sinônimos.
Irmãos, a pregação é o método
escolhido por Deus para salvar pecadores (I Co 1:21). É claro que Ele também
salva usando o Evangelho exposto de outras formas (como a conversa particular
entre Filipe e o eunuco, por exemplo) — mas tanto I Co 1:21, quanto a
comissão do Senhor, enfatizam a importância de se pregar o Evangelho! Há uma solenidade e
autoridade associadas à pregação que faltam em outras formas de apresentar
esta mensagem gloriosa, e toda igreja local deve dar importância à pregação.
Os salvos podem (e devem) proclamar o Evangelho de todas as formas ao seu
alcance: distribuindo folhetos, conversando em particular com aqueles que
mostram interesse, etc., mas nunca em detrimento da pregação pública do
Evangelho. Em outras palavras, nunca falte de uma reunião onde o Evangelho
será pregado publicamente, para distribuir folhetos, ou fazer um estudo, ou
algo semelhante. Como igreja local, devemos dar prioridade à pregação do
Evangelho, com reuniões semanais para este fim, e, sempre que possível,
séries de reuniões de evangelização.
Num dia em que muitas igrejas estão
preocupadas em tornar o Evangelho mais acessível, menos formal e solene, que
nós possamos entender que a solenidade da pregação é enfatizada na comissão
do Senhor Jesus Cristo.
b) O assunto (o Evangelho). É importante pregar; mas é
fundamental pregar o Evangelho, não qualquer outra coisa! Temos um resumo do Evangelho em I Co
15:1:4: “Também vos notifico, irmãos, o Evangelho … Que Cristo morreu por
nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou
ao terceiro dia, segundo as Escrituras”. Resumidamente, portanto, podemos
afirmar que toda pregação do Evangelho irá apresentar a razão da morte de Cristo (Ele morreu por
nossos pecados) e o resultado da morte de Cristo (Ele ressuscitou ao terceiro dia). É necessário
mostrar que o pecado é tão grave que exigiu a morte do próprio Filho de Deus,
e que a morte de Cristo é o sacrifício eficaz e suficiente para a nossa
salvação (a ressurreição é a prova da eficácia da Sua morte, At 17:31). Como
diz Rm 4:25, o Senhor Jesus Cristo “por nossos pecados foi entregue, e
ressuscitou para nossa justificação”.
É assim que pregamos? Ou gastamos a
reunião inteira exortando o pecador quanto à brevidade da vida, quanto à
necessidade de crer, mas não apresentamos Cristo crucificado como o meio de
salvação? Podemos dizer, como Paulo: “Nós pregamos a Cristo crucificado”?
Vamos pregar, e pregar o Evangelho!
c) O alcance (todo o mundo, toda a
criatura). Duas expressões semelhantes que mostram a abrangência da pregação do
Evangelho. Em todo lugar aonde formos, e para qualquer pessoa com quem nos
encontrarmos, devemos pregar.
Isto não quer dizer que cada um dos
salvos precisa ir, literalmente, ao mundo inteiro e pregar, literalmente, a
toda criatura — isto seria impossível. Mas devemos entender estas palavras
como um alerta para não fazermos nenhuma discriminação. Não pode existir um lugar
do mundo, do qual eu diga (ou pense): “Lá eu não quero ir pregar”, e não deve
existir nenhum tipo de pessoa do qual eu diga (ou pense): “Para ele eu não
quero pregar”. Todas as nações precisam do Evangelho, e todo tipo de pessoas
dentro destas nações precisa do Evangelho. Seja rico ou pobre, religioso ou
ateu, honesto ou criminoso, honrável ou imundo, devemos estar dispostos a
pregar a todos.
Portanto, devemos pregar (com toda
a solenidade e autoridade que esta palavra indica) o Evangelho (as boas novas
da morte e ressurreição de Cristo) a todos (sem qualquer discriminação).
O Comissionador
“O Senhor, depois de lhes ter
falado, foi recebido no céu, e assentou-Se à direita de Deus”.
Em Marcos, o Senhor que lhes
comissiona é apresentado, na Sua glória, de duas formas diferentes:
a) Recebido no Céu. Este verbo está na voz passiva, e
enfatiza a maneira como o Céu se alegrou em receber aquele que venceu na
cruz. É interessante notar que a ascensão do Senhor Jesus é descrita de
quatro formas diferentes no NT, como dois verbos na voz passiva e dois na
ativa, sempre associados à palavra “Céu”. Quanto à viagem daqui da Terra até
o Céu, lemos que Ele foi elevado ao Céu (Lc 24:51 — voz passiva), mas também
que Ele foi ao Céu pelo seu próprio poder e autoridade (At 1:11 e I Pe 3:22,
traduzido “subido”, ambos os verbos na voz ativa). Quanto à entrada dEle do
Céu, ao final da viagem, lemos que Ele foi recebido no Céu (aqui e em At
1:11, ambos os verbos na voz passiva), mas também lemos que entrou no Céu (Hb
9:24, voz ativa). O NT deixa claro, portanto, estes dois lados da moeda: o
Céu abriu as portas para aquele que o mundo rejeitou, e Ele, pelo Seu próprio
poder e autoridade, entrou ali.
b) Assentou-Se. Nesta segunda parte da descrição
do Senhor, novamente vemos a Sua autoridade. O Céu abriu as portas para
recebê-lO, e Ele, entrando, assentou-Se à direita de Deus. Esta é uma
afirmação muito clara da divindade do Senhor Jesus Cristo. Quando o
anti-cristo se assentar no Templo de Deus, a Bíblia diz que ele estará com
isto “querendo parecer Deus” (II Ts 2:4) — mas o próprio Cristo se assenta,
não só no Templo, mas no Céu, à direita de Deus, com toda a autoridade e
glória que só Deus pode ter.
Irmãos, é este o Senhor que nos
manda pregar: aquele que foi pregado numa cruz e morreu pelos nossos pecados
— mas também aquele para quem os Céus abriram as suas portas, aquele que
entrou vitorioso no Seu lar e assentou-se no Seu próprio trono, o trono de
Deus. Aquele do qual diz o Sl 24: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças,
levantai-vos, ó entradas eternas, e entrará o Rei da glória”.
O Rei da glória, antes de entrar
pelos portais eternos e assentar-Se à destra do Deus eterno, nos mandou
pregar o Evangelho. Estamos obedecendo?
A companhia
“Cooperando com eles o Senhor, e confirmando
a palavra com os sinais que seguiram. Amém.”
Lemos que os discípulos obedeceram
à comissão do Senhor: eles partiram, e pregaram por todas as partes. Enquanto
obedeciam ao Senhor, tiveram o enorme privilégio de desfrutar da Sua cooperação — a cooperação do Rei da glória,
assentado à destra de Deus! Em II Co 6:1, aprendemos que não apenas estes
primeiros discípulos, mas todos quantos nos envolvemos no serviço glorioso de
pregar o Evangelho (publicamente ou não), somos também cooperadores de Deus. Que
privilégio imenso!
Além disto, lemos que o Senhor confirmou a palavra que eles pregavam, e fez
isto através dos sinais que se seguiram. Sem tomar aqui o espaço necessário
para desenvolver o assunto, convém lembrar que estes sinais seguiram aqueles
primeiros discípulos, mas depois cessaram. Em I Coríntos (escrito mais ou
menos no ano 55 a.D.) lemos dos dons sinais, mas Romanos cap. 12 e Efésios
cap. 4, que foram escritos alguns anos depois, apresentam listas de dons
espirituais (como I Coríntios), mas não incluem nenhum dom sinal nestas
listas. E Marcos, escrevendo mais ou menos no ano 63 a.D., refere-se a estes
sinais no passado (“sinais que se seguiram”, e não “que seguem”). Podemos
deduzir que estes sinais cessaram antes do ano 60 desta nossa era.
Que o consolo destes versículos nos
anime hoje: o Rei da glória nos manda pregar, mas Ele não nos deixa sozinhos
— Ele mesmo estará conosco, cooperando com todo trabalho feito para Ele.
O contexto
A ordem para pregar se encontra em
Marcos, o Evangelho do Servo perfeito. Estamos servindo ao Senhor como Ele
serviu? Seu serviço foi:
a) Abnegado (3:20 e 6:31) —tão dedicado que
algumas vezes não tinha tempo para comer!
b) Atencioso. A palavra grega eutheos (“imediatamente”) ocorre 80 vezes
no NT, e exatamente metade destas ocorrências estão neste pequeno livro de
Marcos! Nenhum autor do NT usa tanto esta palavra quanto Marcos, descrevendo
um serviço pronto feito por um Servo prestativo.
c) Amoroso. Mais do que os outros
evangelistas, Marcos nos revela, muitas vezes, os sentimos compassivos deste
Servo perfeito (1:41; 6:34; 10:21, etc.).
Que nosso serviço seja semelhante
ao serviço do nosso Mestre, o Servo perfeito.
Discipulai (Mateus)
Aqui também quero considerar quatro
assuntos neste trecho: a comissão, a forma como Cristo, o Comissionador, é
apresentado, a companhia do Senhor com os discípulos, e o contexto da
comissão.
A comissão
“Ide, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo;
ensinando-os a guardar todas as cosias que Eu vos tenho mandado”
Há três elementos desta comissão
que podemos destacar:
a) O ato (discipular). “Fazei discípulos” é uma só
palavra no texto original, e quer dizer “discipular”. Estamos conscientes de
que a comissão do Senhor não foi apenas para pregarmos, mas também para
discipularmos? Se estamos dando ênfase à pregação do Evangelho, ótimo —
continuemos neste caminho. Mas tomemos cuidado para não estarmos tão ocupados
com um aspecto da comissão à ponto de esquecermos do outro! Pecadores
precisam ser salvos, mas salvos também precisam ser discipulados! Temos esta
dupla preocupação aqui na comissão, e vemos o mesmo sendo ilustrado em Atos.
No final da primeira viagem missionária, Paulo e Barnabé passam de novo pelas
cidades onde haviam pregado o Evangelho, agora com a intenção de confirmar o
ânimo dos discípulos (At 14). A segunda viagem missionária foi iniciada com a
intenção de visitar os irmãos em todas as cidades onde já haviam anunciado a
Palavra do Senhor (At 15).
Este deve ser o padrão ainda hoje:
pregar o Evangelho aos perdidos, e ensinar aqueles que crêem.
b) O alcance (todas as nações). Repare que a abrangência desta
parte da comissão é idêntica à que já consideramos: todas as nações. Nenhum
preconceito.
A diferença nas expressões é
interessante. Em Marcos, onde lemos do Servo perfeito de Deus, e ênfase está
nas pessoas como indivíduos (devemos pregar a toda criatura). Aqui, onde
lemos do Rei dos reis, a ênfase está nas nações. O Rei tem autoridade sobre
todas as nações, não importa quão poderosas ou influentes elas possam ser.
c) Os acessórios (batizar e
ensinar). O Senhor menciona duas coisas que estão relacionadas com este ato de
discipular:
i) Batismo. O NT deixa bem claro que todos os
salvos devem ser batizados. Batismo não é necessário para a salvação, mas é
estranho, no contexto do NT, um salvo não batizado. Certamente podem haver
exceções (falta de tempo, como no caso do ladrão na cruz, ou alguma
deficiência física grave, etc.), mas a regra é clara: quem crê, seja
batizado. Se você já nasceu de novo e não foi batizado ainda, permita-me
perguntar: o que você está esperando?
ii) Ensino. O que vamos ensinar? Todas as coisas que o Senhor mandou! Certamente
isto inclui o ensino dados pelos apóstolos do Senhor, após a Sua ascensão,
ensinos que estão registrados nas epístolas. Inclui o ensino sobre a igreja
local (a necessidade de reunir ao nome do Senhor Jesus, separadamente das
denominações, e os princípios que governam uma igreja local). Vivemos dias em
que os homens não suportam a sã doutrina, e muitos dentre o povo de Deus
estão indo atrás de ventos de doutrina. Ensinar toda a verdade não nos
tornará populares, mas é o mandamento do Senhor.
O Comissionador
“É-me dado todo o poder no Céu e na
Terra”
A palavra traduzida “poder” aqui
refere-se a “poder” no sentido de “autoridade”, não de “capacidade”. A
afirmação aqui não é que o Senhor consegue fazer qualquer coisa (uma verdade
apresentada em outras partes da Bíblia), mas que Ele tem direito de fazer
qualquer coisa.
Mateus é o Evangelho do Rei — nada
mais apropriado, portanto, do que ver a autoridade que o Senhor apresenta
para a Sua comissão. Quem é que nos manda fazer discípulos de todas as
nações? Quem é este que tem autoridade para nos mandar interferir na cultura
e nos costumes de todos os povos da Terra? Quem é este que Se coloca acima de
todos os governos humanos? Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, aquele
que recebeu toda a autoridade no Céu e na Terra. Não há ninguém que escapa da
Sua autoridade —Ele controla tudo e todos. Ele foi colocado acima de todo o
principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia,
não só neste século, mas também no vindouro, e tudo foi sujeito debaixo dos
Seus pés (Ef 1:21-22).
Tal é a autoridade daquele que nos
comissiona a ensinar todas as nações.
A companhia
“Eis que Eu estou convosco todos os
dias, até a consumação dos séculos. Amém.”
Marcos apresenta o que aconteceu
quando os discípulos obedeceram à comissão do Senhor, mas Mateus apresenta
uma promessa do que vai acontecer (e está acontecendo).
O Senhor promete estar conosco
sempre, todos os dias, até a consumação dos séculos. A promessa não era
somente até o final da vida dos apóstolos, mas até o final desta dispensação
— a promessa é para nós. Todos os dias: mesmo quando esquecemos desta
promessa; mesmo quando parece que ela não está sendo cumprida; mesmo quando
gostaríamos que ela falhasse. Todos os dias, o Senhor sempre estará conosco —
que precioso!
É interessante contrastar esta
promessa incondicional com a promessa condicional de Mt 18:20. Ambas tem uma
notável semelhança, mas também uma diferença importante: as duas promessas dizem
respeito à presença do Senhor conosco, mas a promessa de 28:20 é
incondicional, enquanto a de 18:20 é condicional. Ou seja, individualmente, o
Senhor está com cada um dos Seus, sempre, todos os dias. Coletivamente,
porém, só podemos saber que o Senhor reconhece nosso ajuntamento, e está no
nosso meio, se estivermos reunidos ao Nome dEle!
Será que realmente apreciamos o
privilégio que temos em fazer parte de uma igreja local?
O contexto
Mateus é quem nos fala acerca da
necessidade de discipular — por quê?
O contexto deste Evangelho é o
reino dos céus (uma expressão que ocorre mais de 30 vezes aqui em Mateus, e
nunca mais no NT). É o Rei que tem autoridade para nos enviar a outros reinos
atrás de novos discípulos. Ele não reconhece as barreiras de cultura, língua
e tradições — Ele quer discípulos de todas as nações.
Repare também que este é o único
dos quatro Evangelhos que usa a palavra “igreja”. No cap. 16 ela é usada da
Igreja, e no cap. 18 de uma igreja local. É o desejo do Rei que o reino cresça
através do desenvolvimento de igrejas locais, composta de discípulos. Uma das
nossas principais responsabilidades aqui na Terra é conseguir discípulos, e
ensiná-los a reunir unicamente ao nome do Senhor Jesus Cristo, separado das
denominações.
Conclusão
Nestes dois trechos temos,
portanto, uma única comissão, mas com dois elementos distintos. Aprendemos
que o Servo perfeito nos manda pregar o Evangelho a todos, indistintamente,
seguindo o Seu exemplo de serviço perfeito e abnegado. Aprendemos também que
o Rei nos manda fazer discípulos de todas as nações, batizá-los e ensiná-los
a obedecer tudo que Ele nos ensinou.
Estamos cumprindo esta comissão? As
igrejas aqui representadas são caracterizadas por fervor evangelístico e zelo
doutrinário? Cada um de nós, dependendo do dom que possuímos, irá se dedicar
mais a uma ou outra destas tarefas, mas devemos reconhecer que ambas são
igualmente importantes, e que cada igreja local deve preocupar-se com estes
dois aspectos do seu serviço: pregar o Evangelho, e discipular os salvos.
Que Deus nos ajude nesta tarefa.
W. J. Watterson
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